Mesmo para quem é apenas um usuário da Internet, o IP (Internet Protocol) não é nenhuma novidade. Afinal, a sua primeira versão (RFC 760) foi publicada em 1980! Porém, após somente um ano, o IPv4, em vigor até hoje, substituiu essa versão quando ela ficou obsoleta. Mas, como você bem sabe, muita coisa mudou nesses 44 anos e o IPv4 já dá sinais de esgotamento. Na verdade, isso acontece há algum tempo (para sermos mais específicos, desde 2018) e, por isso, entrou em cena um novo IP: o IPv6.
Embora tenha sido criado em 1988 pela Internet Engineering Task Force, o IPv6 sagrou-se como padrão em 2017. Entretanto, mais que resolver o problema do esgotamento de números IP, essa nova versão se diferencia da antecessora em diversos aspectos. Neste artigo, você saberá quais são e por que a implementação do IPv6 deve ser tratada como uma prioridade.
Tanto o IPv4 quanto o IPv6 têm funções semelhantes: garantir que determinado pacote de dados seja roteado para o dispositivo correto. Ainda, o sistema de nomenclatura designado (forma única de nomear ou identificar cada dispositivo), o fato de serem parte do conjunto de protocolos Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP) e de dividirem dados em blocos menores para serem enviados também representam similaridades importantes.
Contudo, as suas diferenças são significativas. O espaço de endereço é uma delas. Enquanto o IPv4 tem um espaço de 232 (ou 4.294.967.296 endereços), no IPv6 é de 2128, 3.403×103 (ou 340.282.366.920.938.000.000.000.000.000.000.000.000.000). Para facilitar, esse número pode ser traduzido como 340 undecilhões. De acordo com as estimativas, o espaço de endereços do IPv6 é inesgotável.
A nomeação é outro ponto que diferencia o IPv4 do IPv6. No primeiro, quatro números decimais representam o nome do endereço (no intervalo de 0 a 255). Cada um deles indica oito bits, separados por três pontos finais. Já no IPv6, o endereço é identificado por oito números hexadecimais compostos por números (0-9) e letras (A-F), cada um representando quatro bits, separados por dois pontos. Para ficar mais claro, enquanto um endereço IPv4 teria como representação o endereço 197.0.0.1, no IPv6 a nomenclatura é apresentada como 2600:1400:d:5a3::3bd4.
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Também, o IPv6 se difere do IPv4 em relação aos tipos de comunicação. Na versão anterior, há compatibilidade com endereçamento um para um (unicast), um para todos (transmissão) e um para muitos (multicast) com roteamento de vários pacotes. Na atual, há possibilidade de endereçamento unicast, multicast e anycast com roteamento de vários pacotes.
IPv4 | IPv6 | |
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Tamanho do endereço | 32 bits ou 232 endereços IP | 128 bits ou 2128 endereços IP |
Padrão de nomenclatura | Quatro lotes de números de três dígitos, separados por pontos finais. | Oito lotes de números hexadecimais de quatro caracteres, separados por dois pontos. |
Exemplo de representação da nomenclatura | 197.0.0.1 | 2600:1400:d:5a3::3bd4 |
Endereçamento de pacotes | Unicast, broadcast e multicast | Unicast, multicast e anycast |
Se sua empresa depende da Internet, é bom colocar a implantação do IPv6 em pauta. Um dos principais motivos está no incremento que o padrão oferece à segurança. Isso porque a nova versão inclui o Internet Protocol Security (IPsec) ― que oferece criptografia e autenticação de dados de ponta a ponta como padrão. Além disso, possibilita a inclusão de extensões de privacidade e outros protocolos de roteamento seguros, tal qual o OSPFv3. Abaixo, você confere outros aspectos que deixarão sua rede mais segura:
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Antes de tudo, é bom explicar a diferença entre migração e implantação. Segundo o site IPv6.br, quando se fala a curto prazo, o correto é a implantação do padrão, uma vez que o IPv4 não tem uma data de desativação. Agora, a médio e longo prazo, haverá, de fato, uma migração total para esse modelo. Todavia, de acordo com especialistas, o IPv4 e o IPv6 coexistirão por muitos anos ― situação a qual se dá o nome técnico de dual-stack.
Embora os esforços para implantação do IPv6 remontem ao ano de 2015, mundialmente, nem metade das redes estão usando esse padrão. A situação da adoção do novo IP tem sido acompanhada de perto pelo Google, que tem uma página exclusiva para mensurar a quantidade de dispositivos que acessam o site por meio da versão mais moderna.
Fonte: https://www.google.com/intl/pt-BR/ipv6/statistics.html#tab=ipv6-adoption
Enquanto isso, no Brasil, 51,56% já utilizam o protocolo, o que nos coloca à frente de países como Canadá (42,13%), Portugal (35,4%) e Reino Unido (50,44%).
Fonte: https://www.google.com/intl/pt-BR/ipv6/statistics.html#tab=per-country-ipv6-adoption
No entanto, se não há data-limite para a extinção do IPv4, por que sua empresa deve priorizar o IPv6? Além das questões de segurança já mencionadas, é importante destacar que esse movimento demandará planejamento. Seja em relação aos dispositivos e softwares utilizados ou nas questões de estudo e treinamentos, mudar para o IPv6 exigirá esforços do seu time de TI.
Praticamente todas as operadoras já comercializam o IPv6 para o público corporativo. Mas a implementação deve passar por alguns processos internos. O primeiro deles, sem dúvidas, é fomentar a discussão, garantindo que todos saibam do que o novo padrão se trata.
Os gestores devem incentivar que a equipe de TI estude e faça experimentos internos usando o novo protocolo. Dedicar esforços em entendê-lo é essencial para o sucesso da implantação. Isso porque nem sempre bastará direcionar a compra de novos dispositivos com base na instrução “precisa ter IPv6”. Isso porque, dependendo das necessidades, certas funcionalidades do protocolo deverão estar presentes. Logo, ter um bom conhecimento técnico acerca do padrão é fundamental.
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Embora não exista uma data-limite para a extinção do IPv4, estoque central e na América Latina já não existem endereços disponíveis. Assim, é inevitável que, em algum momento, ele deixe de existir. Por ora, IPv4 e IPv6 coexistirão.
Incorpora o IPsec por padrão, possibilita extensões de privacidade, oferece melhor suporte a protocolos de roteamento seguros e dificulta a busca por hosts ativos por invasores.
Sim, praticamente todas, mas apenas para usuários corporativos.
É preciso planejar a atualização de dispositivos e softwares, capacitar a equipe de TI e entender as funcionalidades do protocolo para garantir uma implantação segura e eficaz.
Por
Daniel Curi
Especialista em gestão de Telecom e TI com mais de 10 anos de experiência no setor. Tenho liderado inúmeros projetos voltados a automações nessa área, otimizando processos, trazendo eficiência operacional e ganho de tempo, permitindo que as equipes se concentrem nas atividades estratégicas da organização.